quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

os 10 momentos marcantes de 2009 - Simão Martins

Micachu and The Shapes - "Jewellery"



Quando a primeira experiência é bem sucedida, só isso já é de louvar. Mas os Micachu and The Shapes vão mais longe. Ao primeiro tiro, alteram os moldes habituais da pop. Arrancam-lhes os refrões bonitinhos e ritmicamente previsíveis. Dão-nos uma versão crua da pop, por assim dizer, caótica e ao bom estilo da música concreta - sons de aspirador, e outros elementos que caracterizam este estilo tão próprio de Matthew Herbert (produtor do disco). É também a sonoridade mais inovadora, algo apenas possível graças à formação musical de Mica Levi, líder e mentora do projecto.


Animal Collective - "Merriweather Post Pavillion"



Depois de, em 2007, "Strawberry Jam" ter ficado na prateleira (para mais tarde ser bastante apreciado, o que já aconteceu), desta vez os Animal Collective não se puseram com merdas. Um disco construído à base de samples não muito diferentes entre si, com faixas de encher as medidas. Da primeira à última do disco, deparamo-nos com potenciais singles em cada pedaço que encontramos. Seria mais difícil de ouvir, se não conhecessemos já o seu antecessor. Brilhante!


Dirty Projectors - "Bitte Orca"



Não é ele. São elas. As três vozes que juntas compoem harmonias absolutamente incríveis (há vezes em que pensamos tratar-se de um sintetizador) fazem de "Bitte Orca" um disco excepcional. Lembra-nos os ritmos dos Vampire Weekend (cujos vocalista e teclista já fizeram parte dos DP), mas mais minimalista. Aqui, contam as vozes, a guitarra, o baixo e a bateria. Não há cá arranjinhos superiores para disfarçar impotências. Isto é música.


Grizzly Bear - "Veckatimest"



Um disco de excelentes canções, que tem em "While You Wait For The Others" o seu auge. Não ultrapassa "Bitte Orca" na medida em que os arranjos vocais, mesmo sendo muito bem conseguidos, constituem uma importância menor na música dos Grizzly Bear que na dos Dirty Projectors. Não obstante, revelam um trabalho melódico e harmónico, sob a aura do indie-rock, que nos deixa absolutamente pasmados. A música acima nomeada é uma das melhores do ano, sem dúvida. E "Veckatimest" não fica atrás.


The Antlers - "Hospice"



Pode parecer incrível como um disco descoberto há cerca de uma semana pode aparecer assim, sem mais nem menos, na minha lista dos 10 melhores do ano. Só que "Hospice" não é um simples disco. Provavelmente, se o tivesse encontrado mais cedo, até estaria para segundo ou mesmo primeiro. Mas preciso de tempo para o absorver e até agora só me deparei com coisas boas. Faz-me lembrar "Funeral", dos Arcade Fire, o que por si só é um elogio. Mas parece-me até que o ultrapassa, na medida em que é menos imediato, dá-nos mais trabalho. Será, talvez, uma obra-prima.


The Invisible - "The Invisible"



Um disco pop feito por músicos de jazz é sempre bem-vindo. Neste caso, o primeiro disco dos The Invisible é uma verdadeira pérola musical que acaba por marcar o ano de 2009 - nem sabem o que me arrependo de não os ter visto no Super Bock em Stock. É um daqueles exemplos em que a produção excepcional de um disco o pode fazer catapultar para um patamar superior. Ainda bem que tal aconteceu. Os "invisíveis" fazem boa música pop, sem estarem reféns de melodias imediatas e refrões cantáveis à primeira.


Fever Ray - "Fever Ray"



Como disse no Planeta Pop, este é um dos álbuns verdadeiramente originais de 2009. Sombrio até dizer chega, consegue ser envolvente, na medida em que a sua estranheza nos leva a querer descobri-lo. A voz alterada de Karin Dreijner Anderson é a sonoridade de marca de "Fever Ray". Se eu tivesse que aconselhar uma hora para ouvir o disco, seria certamente na madrugada, ou ao nascer do sol. Dava para fazer um belo filme, este autêntico exemplo de como a electrónica não está refém da dança ou da imediatez. Por vezes, é também necessário ser negro e sereno.


Julian Casablancas - "Phrazes For The Young"



Casablancas voltou, felizmente, para nos mostrar que os The Strokes não são a sua única praia. A vida não é só rock, mas também pop, country e até folk. Se o vocalista dos nova-iorquinos decidir dar-nos mais exemplos disso, creio que estaremos perante um autêntico camaleão, disposto a encarnar novas roupagens sempre que estiver com disposição e criatividade para isso. Embora só tenha 8 faixas (aposto que Casablancas fez isso para ter maior probabilidade de estar integrado neste tipo de listas, e aí lixou-me), o disco é bastante coeso e diversificado. Uma bela minhoca para esta primeira cavadela, ó Casablancas!


Junior Boys - "Begone Dull Care"



Electrónica. Sintetizadores - gosto tanto deles como tu, Astronauta, e se forem utilizados assim, melhor. Vozes sensuais. Ritmos simples. Música de gente grande, como diz o João aqui do blogue. Um disco incontornável, se quisermos que 2009 seja regado com boa pop. "Begone Dull Care é a banda sonora perfeita para um jantar a dois com vinho e lagosta ou para dançar no quarto enquanto nos vestimos de manhã para ir para o trabalho", dizia o João no post que escreveu acerca do disco. Concordo.


Franz Ferdinand - "Tonight"



Para mim os Franz Ferdinand terão sempre um lugarzinho guardado desde que se lançaram ao mundo em 2004. "Tonight" é só mais uma prova de que eles ainda estarão para as curvas durante alguns aninhos. Só que não é em disco que eu mais gosto dele. É ao vivo, enquanto entoo os refrões e tento acompanhar as guitarradas e os ritmos da bateria com o corpo. E agora também os sintetizadores, que eles tão bem integraram na sua sonoridade. Que continuem assim, pois 2009 também foi vosso!

fazer música à Arcade Fire é com os The Antlers


Como dizia Vítor Belanciano no primeiro Super Disco, não é sua ambição conhecer tudo, no que à música diz respeito. Mas há certas obras-primas que, quer queiramos ou não, nos escapam. No entanto, se quisermos ser um bocadinho mais felizes, há uma em particular que não podemos esquecer. "Hospice", o último disco dos The Antlers, banda de Brooklyn, é essa obra-prima que apareceu por acaso, graças a um pequeno post do Ípsilon no Facebook que citava o crítico de música Luís Maio. Depois, nem cheguei a ler o texto. Mas o senhor que estava ao balcão da Louie Louie, no Chiado, disse-me que o disco era bem bom. E eu concordo.

Os The Antlers têm mais dois álbuns, "Uprooted" e "In The Attic of the Universe", de 2006 e 2007, respectivamente. Não conheço os trabalhos em questão mas depois deste "Hospice", não demorarei muito tempo a desbravar a discografia do trio nova-iorquino liderado por Peter Silberman.

O álbum conta uma estória. Começa com "Prologue" e termina com "Epilogue". A primeira, mais abstracta e ruidosa, marca o início duma viagem que nos lembrará, ao chegarmos à décima e última faixa do disco, Arcade Fire e "The Funeral", autêntica compilação de hinos e canções que marcariam a história para sempre. Mas como a história é feita de estórias, "Hospice" é mais um desses contos que insiste em não se fazer esquecer. Atenção: estamos a falar dum trabalho absolutamente acústico, por vezes folk, outras mais a puxar para o indie rock à boa maneira arcadefireana. A voz de Silberman lembra-nos Win Butler, que lembra Bowie. Não sei se Bowie faz sentir saudades de alguém, porque só ele é assim.

Mas não nos percamos, o que também não era fácil.

Estamos num mundo feito à base de piano, cordas sinfónicas (também há secções de sopros metálicos - trompetes, trombones e trompas), reverberação, uma guitarra ligeiramente distorcida - quando não é acústica - e uma bateria recrutada para fazer o mesmo que nos Arcade Fire. Com estes ingredientes, o resultado é uma das obras-primas dos últimos anos e um dos melhores registos deste ano. Podem não ser singles como "Power Out" ou "Tunnels", mas despertam-nos provavelmente maior interesse.

Não é um disco imediato. Não porque seja difícil de ouvir - não é, de todo. Mas requer termos tempo para o consumir. Dispensar uma hora com "Hospice" será certamente um serão ganho.



domingo, 13 de dezembro de 2009

saudosos anos 2000 - the present and the future. yeah!

por André Breites (Who's Playing At My House)



Quando o velho companheiro de luta Simão me propôs fazer um texto sobre o Sound of Silver para os "Saudosos anos 2000" a minha primeira reacção foi franzir o sobrolho. Primeiro porque sei que o Simão também adora os LCD Soundsystem e depois porque é-me impossível falar de Sounds Of Silver sem ir mais atrás nesta década.

Em 2001 o americano James Murphy junta-se ao inglês Tim Goldsworthy para fundar a editora que viria a agitar as águas no que à música de dança mais underground diz respeito, a DFA Records. James Murphy - um tipo quase quarentão, de barriguinha proeminente e barba por fazer, que poderia ser nosso vizinho do lado, cheio de talento e de boas referências - soube-se rodear de gente de confiança formando uma espécie de família, com músicos a tocar em várias bandas da editora e criando um género de som que serviu de imagem de marca. Apostou em jovens com sangue na guelra como os The Rapture e fez as cowbells ecoarem pelas pistas de dança deste mundo. Neste processo convenceu por exemplo o velho amigo John a voltar à música depois
de este ter saído desiludido e afogado em drogas da sua antiga banda, onde Murphy era engenheiro de som. Hoje Jonh responde por Juan Maclean e é responsável por outro dos discos mais memoráveis destes anos 00.

Em 2002 James decide criar a sua própria banda e não faz as coisas por menos. O single de estreia do "Losing My Edge" torna-se um underground hit e os seguintes "Give It Up" e "Yeah" - que viria a ter várias versões, uma delas intitulada "stupid version"...- ajudam a por mais achas para a fogueira.

Estavam dados os primeiros passos...

Sound of Silver, de 2007, foi apenas a última grande peça do puzzle que ajudou a tornar tudo ainda mais claro: os LCD Soundsystem são a melhor banda da década (não estou a ser nada tendencioso, como podem ver) pela forma como ajudaram a consolidar e a consumar o cruzamento entre o rock e a música de dança nestes dez anos, pela forma como reciclam e citam influências de um passado mais ou menos recente - veja-se "Daft Punk Is Playing At My House" ou o desfilar de bandas na
letra de de "Losing My Edge" - e o transformam em algo personalizado e até inovador, pelo humor e ironia que conseguem ter mesmo nos momentos mais solenes, pelo apelo irresistível ao bater do pé ou a algo mais expansivo e por outras mil e umas razões.

Difícil é destacar Sounds Of silver em relação à estreia da banda com o disco homónimo de 2005 mas de facto Sounds Of Silver é um disco mais coeso. Não que seja melhor mas porque o LP de estreia, que até foi duplo, era mais uma compilação de singles que propriamente um álbum construido da cabeça aos pés. Sound Of Silver tem tudo, para todos os gostos. Da raiva controlada de "Us Vs. Them" à tocante e desencantada declaração de amor à sua mais que tudo Nova Iorque, passando pela acutilante "All My Friends" e pela envolvente "Someone Great", momentos inesquecíveis não faltam por aqui. Ouça-se "Watch The Tapes" e
perceba-se que nem quando os ritmos são mais primários e o viço punk vem à tona a qualidade baixa. Isto tudo sem esquecer os já característicos crescendos: "Get Innocuous!" abre o álbum de maneira arrepiante...

Aos arautos da desgraça que diziam que a DFA era uma editora da moda - e que ia morrer moribunda assim que esta "moda" passasse - lamento informar que esse dia ainda não chegou. Nem irá chegar, pelo menos por esses motivos. Porque aqui a música não se rege por modas, nem a DFA está confinada, como alguns gostam de fazer crer, ao disco-punk. A DFA está confinada sim, mas à boa música (apesar de algumas excepções que não me agradam mas que servem para confirmar a regra). E essa não é só disco-punk ou fandango, a boa música é universal e ultrapassa etiquetas.

Os LCD Soundsystem, apesar de não terem chegado novos às luzes da ribalta, são o presente e o futuro. Yeah!


[apesar de ter franzido o sobrolho inicialmente, acabo com um agradecimento ao Simão e ao João Francisco pela oportunidade que me deram de escrever sobre uma das minhas paixões neste magnífico cantinho da blogosfera. Brevemente voltaremos a ter novidades conjuntas!]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

saudosos anos 2000 - don't believe the hype


hype - A clever marketing strategy which a product is advertized as the thing everyone must have, to the point where people begin to feel they need to consume it. To create interest in by flamboyant or dramatic methods; promote or publicize showily



Vivia-se o ano de 2005 e o mote acima transcrito servia como cartão de visita para a apresentação da banda mais falada do momento: Arctic Monkeys. 4 putos de Sheffield estavam a virar do avesso a cena musical britânica, e os circuitos musicais borbulhavam com as demos e as gravações quase trapalhonas destes miúdos, mas que contagiavam à primeira audição. As mesmas eram distribuídas gratuitamente nas actuações que realizavam, e o resto era feito pelos fãs. O "vírus" espalhava-se de uma forma rápida. Depois dos Arctic Monkeys, os sites de redes sociais, nomeadamente o MySpace, nunca mais foram os mesmos. Não terão sido com certeza os primeiros a saber aproveitar o potencial da Internet como meio de divulgação da sua música, mas foi com eles que o paradigma começou a mudar (curiosamente os próprios admitiram que a sua página de MySpace fora criada por fãs, e que eles nunca tiveram responsabilidade no fenómeno).

Ainda antes de "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not" ser gravado, as músicas que iam estar no álbum já eram sucessos garantidos. Os fãs já sabiam as letras todas de cor, os concertos estavam cheios e o culto ameaçava crescer a um ritmo nunca antes visto. O primeiro single "I Bet You Look Good On The Dancefloor" descolou imediatamente para nº1 do top. Quando surgiram na capa do NME, em Janeiro de 2006, poucos dias antes do lançamento oficial do álbum de estreia, o hype rebentou. O resultado: bateram todos os recordes de vendas até à data, número 1 no top britânico durante semanas a fio, tudo isto culminado com o Mercury Prize entregue no mesmo ano.

Rapidamente acusados de serem levados ao colo pela imprensa e de serem sobrevalorizados, a verdade é que "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not" pemaneceu imune às críticas negativas e falava por si. A energia presente no álbum é inegável. Somos imediatamente arrasados com o tema de abertura, e a partir daí a viagem só se torna (ainda) mais alucinante. Sem pormenores técnicos nem rasgos virtuosos, a música destes rapazes não tinha segundas intenções. O esquema, aliás, é surpreendentemente simples e eficaz: uma secção rítmica frenética, guitarras a 100 à hora, e uma voz carismática disparando letras de cariz social, sarcásticas e mordazes. Os Arctic Monkeys tornaram-se na voz da juventude britânica, e o mundo seguir-se-ia pouco tempo depois.
Alex Turner está longe de ser um líder polémico e mediático, e o sucesso meteórico nunca subiu à cabeça da banda. Desde cedo manifestaram uma paradoxal maturidade que contrastava com o público que os ouvia, com o próprio aspecto da banda (quantos músicos se gabam de receber um Mercury Prize com borbulhas na cara?), ou com a opinião da crítica e da sociedade sobre eles, fosse ela qual fosse, que assistia à sua conquista da cena musical.
Felizmente, eu nunca acreditei no "hype".


1. The View From The Afternoon
2. I Bet You Look Good On The Dancefloor
3. Fake Tales Of San Francisco
4. Dancing Shoes
5. You Probably Couldn't See For The Lights But You Were Looking Straight At Me
6. Still Take You Home
7. Riot Van
8. Red Light Indicates Doors Are Secure
9. Mardy Bum
10. Perhaps Vampires Is A Bit Strong But...
11. When The Sun Goes Down
12. From The Ritz To The Rubble
13. A Certain Romance

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

saudosos anos 2000 - once in a lifetime


Encontrava-me a descer aquela rampa incrivelmente íngreme em direcção à zona de campismo quando, por uma razão para a qual ainda não arranjei qualquer explicação, o meu olhar se desviou para perseguir um tipo baixo, de camisa vermelha e ténis brancos. De repente, senti o coração a bater mais rápido. Foquei o homem, e não hesitei: "Nick!", exclamei eu, sem medo de me enganar na pessoa. O homem olhou para mim, sorridente e disposto a trocar dois dedos de conversa. Exactamente. Na ressaca do concerto dos Franz Ferdinand em Paredes de Coura deste Verão, eis-me ali, privado de receio e vergonha, a dirigir-me a Nick McCarthy, guitarrista dos Fab Four de Glasgow.

Tremia que nem varas verdes. Lembro-me de ter os olhos humedecidos só de falar com aquele tipo, de lhe dizer mil vezes num inglês sem falhas (nunca me tinha acontecido) o quão o seu primeiro álbum tinha sido importante para mim. Que tinha sido por causa dele, McCarthy, e de Kapranos, que tinha aprendido a tocar guitarra. Devia-lhes quase tudo. Ao meu lado, a Raquel, por quem me apaixonei ao som de "Walk Away", canção que toquei vezes sem conta, do segundo disco, "You Could Have It So Much Better". Mas, se me dirigi ao guitarrista de origem germânica, foi por causa de "Franz Ferdinand", o disco que em 2004 arrecadou sem discussão o Mercury Prize. É uma obra peculiar. Não obstante o sucesso gigantesco de faixas como "Take Me Out", "Dark of The Matinee" ou "This Fire", qualquer das restantes 8 músicas do disco serviriam para dar inicialmente a cara aos Franz Ferdinand. Lembro-me, entre outras, de "Jacqueline", "Auf Achse", "Darts of Pleasure", "40'", "Tell Her Tonight", "Cheating On You", "Michael" ou até a gloriosa "Come On Home". Perdoem-me, acabei de indicar as restantes.

Este disco é para mim não só o melhor desta década como o melhor e mais importante de todos os tempos. Quando esta obra de pós-punk e dance rock alternativo foi lançada, apercebi-me que o que sempre tinha procurado na música eram aqueles riffs, dançáveis e complementares, o carisma de Alex Kapranos e os ritmos imprimidos por Paul Thompson na bateria - a minha grande frustração sempre foi não ter quatro braços, de forma a conseguir reproduzir o som dos Franz Ferdinand. Mas ao menos conseguia dançá-los. E foi assim que, em 2004, os vi no Sudoeste, naquele que foi considerado o concerto do ano. Dancei, vibrei, agarrei-me a pessoas que nunca cheguei a conhecer. Tudo pela alegria e energia que aqueles quatro transmitiam ao vivo. Eles não são músicos exímios. Nem sei se algum dia lá chegarão. Mas sabem o que fazem com as guitarras, com o baixo e com a bateria (e agora até já se lançaram aos sintetizadores). As primeiras parecem bebés siameses, com timbres convergentes e auxiliando-se mutuamente, à semelhança do que acontece com os The Strokes. Mas melhor. A diferença está também na bateria, que é por si só um riff. Paul Thompson é, de resto, um dos músicos que utiliza o instrumento da forma que mais me agrada. Funde-se com ele e juntos são um só - isto é-vos facilmente explicável por alguém que já o tenha visto ao vivo.

Concluindo, este "Franz Ferdinand", lançado pela Domino em 2004, tem para mim um valor extra-sentimental. Guess what. Não sei do disco.

1 - Jacqueline
2 - Tell Her Tonight
3 - Take Me Out
4 - The Dark Of The Matinée
5 - Auf Achse
6 - Cheating On You
7 - This Fire
8 - Darts Of Pleasure
9 - Michael
10 - Come On Home
11 - 40'


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"to me, it means «red-haired one» – and it does, vaguely"


Podíamos estar em plena apoteose de sintetizadores nos anos 80. Mas encontramo-nos em 2009. Elly Jackson e Ben Langmaid vêm de Inglaterra e parecem não se ralar muito com isso. Juntos, formam o projecto La Roux. A citação do título é de Jackson, a menina com um look que não é masculino nem feminino.

A música, essa, é bem feminina. Conta estórias de amores e desamores que geralmente encontramos em artistas MTV-pop. Mas os ingredientes são outros. O synthpop desta dupla, que ao vivo é um quarteto, rege-se por uma receita constante ao longo do álbum homónimo. Há que reconhecer que não se trata de uma obra-prima, este "La Roux". Mas também não é esse o objectivo - imagino eu. O resultado final é um disco repleto de canções de fácil penetração e entrenhamento auditivos, cozinhado à base de azeite e cebola. Isto traduz-se, em linguagem "synthpopiana", numa bateria digital cujo único objectivo é acompanhar os sintetizadores que devem lançar o mote, raramente representado uma mais-valia. Mas, repito, o objectivo não será esse, de acordo com a minha imaginação.

O disco resulta em algo despretensioso. Pouco ambicioso, mas que se come duma assentada só. Elly Jackson não é um rouxinol e muito menos uma escritora digna desse nome. Mas sabe para o que trabalha e é bem sucedida. Que mais poderíamos, então, pedir a estes La Roux?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

saudosos anos 2000 - ao virar do milénio, um reabrir dos ouvidos


Estávamos em 2001. O meu pai entrou no carro e arremessou-me dois CD. Na altura, deve ter dito qualquer coisa do género: "mais tarde ainda hás-de dar muito valor a estes «disquinhos» que acabei de comprar". Tiro certeiro. Eis-me aqui, hoje, Dezembro de 2009, a falar de "Is This It" dos The Strokes. O outro era "White Blood Cells" dos White Stripes. Gaita, também me dará que falar.

Em 2001 o meu conhecimento musical, se é que há por aí uma definição do género, era ainda muito rudimentar - mesmo agora não me posso gabar de ter evoluído o suficiente. Ainda assim, se alguma coisa mudou desde então, agradecerei para todo o sempre aos The Strokes por me terem proporcionado esse abrir de ouvidos que hoje me permite discernir a música de outro modo. Vamos então à obra.

Se eu começar por dizer que "Is This It" é um conjunto de várias canções com personalidade própria, bem distinguidas entre si e em que o único ingrediente constante é a sonoridade (verão a seguir o que quer isto dizer), não estarei muito longe da verdade. Por outro lado, é um disco que relança o rock numa perspectiva mais indie, construído a partir da garagem e concebido para soar a rudimentar, mas que não tardou em ser alcançado pelos holofotes - nem podia ser doutra forma. Ah, a sonoridade.

Aquela bateria, que mais parece uma caixa de ritmos, mantém-se ao longo das 11 maravilhosas faixas que compõem o disco. Não há breaks apocalípticos mas isso também não seria desejável. Os The Strokes valem pela simplicidade. As guitarras, repartidas por Hammond Jr. e Nick, andam de mãos dadas - é essa uma das marcas do quinteto norte-americano. A competência dos dois permite-lhes trocar de posição entre guitarra-ritmo e solo. Quando não há esta diferença, e as duas guitarras oscilam entre harmonias quais cara-metade, tudo faz sentido. Sim, é também essa uma das grandes bandeiras do som dos Franz Ferdinand. O baixo, esse, é o penúltimo elemento a integrar este painel. Sem ele, os Strokes estariam reduzidos a cacos. No meio das brincadeiras dos registos mais agudos praticadas pelas guitarras, há sempre aquele elemento que nos ajuda a completar o puzzle sonoro, ajudando à resolução de cada acorde, cada nota.

Por último, aquela voz sempre abafada e distorcida de Julian Casablancas. The Man, poder-se-ia dizer. Já por mais que uma vez o João (aqui do W.Y.A.) referiu como lacuna o facto de os nova-iorquinos dispensarem segundas vozes. Pois eu acho que Casablancas chega para o serviço. O timbre e o carisma sempre trataram do assunto.

Simplicidade, uma vez mais, nas letras e na composição.

Resta-me, por fim, deixar aqui o alinhamento, destacando-se algumas faixas (*). Até podiam ser todas, mas há aquelas que insistem sempre em adiantar-se.

1- Is This It *
2- The Modern Age
3- Soma
4- Barely Legal *
5- Someday *
6- Alone, Together
7- Last Nite *
8- Hard To Explain *
9- New York City Cops *
10- Trying Your Luck
11- Take It Or Leave It