Micachu and The Shapes - "Jewellery"
Quando a primeira experiência é bem sucedida, só isso já é de louvar. Mas os Micachu and The Shapes vão mais longe. Ao primeiro tiro, alteram os moldes habituais da pop. Arrancam-lhes os refrões bonitinhos e ritmicamente previsíveis. Dão-nos uma versão crua da pop, por assim dizer, caótica e ao bom estilo da música concreta - sons de aspirador, e outros elementos que caracterizam este estilo tão próprio de Matthew Herbert (produtor do disco). É também a sonoridade mais inovadora, algo apenas possível graças à formação musical de Mica Levi, líder e mentora do projecto.
Animal Collective - "Merriweather Post Pavillion"
Depois de, em 2007, "Strawberry Jam" ter ficado na prateleira (para mais tarde ser bastante apreciado, o que já aconteceu), desta vez os Animal Collective não se puseram com merdas. Um disco construído à base de samples não muito diferentes entre si, com faixas de encher as medidas. Da primeira à última do disco, deparamo-nos com potenciais singles em cada pedaço que encontramos. Seria mais difícil de ouvir, se não conhecessemos já o seu antecessor. Brilhante!
Dirty Projectors - "Bitte Orca"
Não é ele. São elas. As três vozes que juntas compoem harmonias absolutamente incríveis (há vezes em que pensamos tratar-se de um sintetizador) fazem de "Bitte Orca" um disco excepcional. Lembra-nos os ritmos dos Vampire Weekend (cujos vocalista e teclista já fizeram parte dos DP), mas mais minimalista. Aqui, contam as vozes, a guitarra, o baixo e a bateria. Não há cá arranjinhos superiores para disfarçar impotências. Isto é música.
Grizzly Bear - "Veckatimest"
Um disco de excelentes canções, que tem em "While You Wait For The Others" o seu auge. Não ultrapassa "Bitte Orca" na medida em que os arranjos vocais, mesmo sendo muito bem conseguidos, constituem uma importância menor na música dos Grizzly Bear que na dos Dirty Projectors. Não obstante, revelam um trabalho melódico e harmónico, sob a aura do indie-rock, que nos deixa absolutamente pasmados. A música acima nomeada é uma das melhores do ano, sem dúvida. E "Veckatimest" não fica atrás.
The Antlers - "Hospice"
Pode parecer incrível como um disco descoberto há cerca de uma semana pode aparecer assim, sem mais nem menos, na minha lista dos 10 melhores do ano. Só que "Hospice" não é um simples disco. Provavelmente, se o tivesse encontrado mais cedo, até estaria para segundo ou mesmo primeiro. Mas preciso de tempo para o absorver e até agora só me deparei com coisas boas. Faz-me lembrar "Funeral", dos Arcade Fire, o que por si só é um elogio. Mas parece-me até que o ultrapassa, na medida em que é menos imediato, dá-nos mais trabalho. Será, talvez, uma obra-prima.
The Invisible - "The Invisible"
Um disco pop feito por músicos de jazz é sempre bem-vindo. Neste caso, o primeiro disco dos The Invisible é uma verdadeira pérola musical que acaba por marcar o ano de 2009 - nem sabem o que me arrependo de não os ter visto no Super Bock em Stock. É um daqueles exemplos em que a produção excepcional de um disco o pode fazer catapultar para um patamar superior. Ainda bem que tal aconteceu. Os "invisíveis" fazem boa música pop, sem estarem reféns de melodias imediatas e refrões cantáveis à primeira.
Fever Ray - "Fever Ray"
Como disse no Planeta Pop, este é um dos álbuns verdadeiramente originais de 2009. Sombrio até dizer chega, consegue ser envolvente, na medida em que a sua estranheza nos leva a querer descobri-lo. A voz alterada de Karin Dreijner Anderson é a sonoridade de marca de "Fever Ray". Se eu tivesse que aconselhar uma hora para ouvir o disco, seria certamente na madrugada, ou ao nascer do sol. Dava para fazer um belo filme, este autêntico exemplo de como a electrónica não está refém da dança ou da imediatez. Por vezes, é também necessário ser negro e sereno.
Julian Casablancas - "Phrazes For The Young"
Casablancas voltou, felizmente, para nos mostrar que os The Strokes não são a sua única praia. A vida não é só rock, mas também pop, country e até folk. Se o vocalista dos nova-iorquinos decidir dar-nos mais exemplos disso, creio que estaremos perante um autêntico camaleão, disposto a encarnar novas roupagens sempre que estiver com disposição e criatividade para isso. Embora só tenha 8 faixas (aposto que Casablancas fez isso para ter maior probabilidade de estar integrado neste tipo de listas, e aí lixou-me), o disco é bastante coeso e diversificado. Uma bela minhoca para esta primeira cavadela, ó Casablancas!
Junior Boys - "Begone Dull Care"
Electrónica. Sintetizadores - gosto tanto deles como tu, Astronauta, e se forem utilizados assim, melhor. Vozes sensuais. Ritmos simples. Música de gente grande, como diz o João aqui do blogue. Um disco incontornável, se quisermos que 2009 seja regado com boa pop. "Begone Dull Care é a banda sonora perfeita para um jantar a dois com vinho e lagosta ou para dançar no quarto enquanto nos vestimos de manhã para ir para o trabalho", dizia o João no post que escreveu acerca do disco. Concordo.
Franz Ferdinand - "Tonight"
Para mim os Franz Ferdinand terão sempre um lugarzinho guardado desde que se lançaram ao mundo em 2004. "Tonight" é só mais uma prova de que eles ainda estarão para as curvas durante alguns aninhos. Só que não é em disco que eu mais gosto dele. É ao vivo, enquanto entoo os refrões e tento acompanhar as guitarradas e os ritmos da bateria com o corpo. E agora também os sintetizadores, que eles tão bem integraram na sua sonoridade. Que continuem assim, pois 2009 também foi vosso!