domingo, 13 de dezembro de 2009

saudosos anos 2000 - the present and the future. yeah!

por André Breites (Who's Playing At My House)



Quando o velho companheiro de luta Simão me propôs fazer um texto sobre o Sound of Silver para os "Saudosos anos 2000" a minha primeira reacção foi franzir o sobrolho. Primeiro porque sei que o Simão também adora os LCD Soundsystem e depois porque é-me impossível falar de Sounds Of Silver sem ir mais atrás nesta década.

Em 2001 o americano James Murphy junta-se ao inglês Tim Goldsworthy para fundar a editora que viria a agitar as águas no que à música de dança mais underground diz respeito, a DFA Records. James Murphy - um tipo quase quarentão, de barriguinha proeminente e barba por fazer, que poderia ser nosso vizinho do lado, cheio de talento e de boas referências - soube-se rodear de gente de confiança formando uma espécie de família, com músicos a tocar em várias bandas da editora e criando um género de som que serviu de imagem de marca. Apostou em jovens com sangue na guelra como os The Rapture e fez as cowbells ecoarem pelas pistas de dança deste mundo. Neste processo convenceu por exemplo o velho amigo John a voltar à música depois
de este ter saído desiludido e afogado em drogas da sua antiga banda, onde Murphy era engenheiro de som. Hoje Jonh responde por Juan Maclean e é responsável por outro dos discos mais memoráveis destes anos 00.

Em 2002 James decide criar a sua própria banda e não faz as coisas por menos. O single de estreia do "Losing My Edge" torna-se um underground hit e os seguintes "Give It Up" e "Yeah" - que viria a ter várias versões, uma delas intitulada "stupid version"...- ajudam a por mais achas para a fogueira.

Estavam dados os primeiros passos...

Sound of Silver, de 2007, foi apenas a última grande peça do puzzle que ajudou a tornar tudo ainda mais claro: os LCD Soundsystem são a melhor banda da década (não estou a ser nada tendencioso, como podem ver) pela forma como ajudaram a consolidar e a consumar o cruzamento entre o rock e a música de dança nestes dez anos, pela forma como reciclam e citam influências de um passado mais ou menos recente - veja-se "Daft Punk Is Playing At My House" ou o desfilar de bandas na
letra de de "Losing My Edge" - e o transformam em algo personalizado e até inovador, pelo humor e ironia que conseguem ter mesmo nos momentos mais solenes, pelo apelo irresistível ao bater do pé ou a algo mais expansivo e por outras mil e umas razões.

Difícil é destacar Sounds Of silver em relação à estreia da banda com o disco homónimo de 2005 mas de facto Sounds Of Silver é um disco mais coeso. Não que seja melhor mas porque o LP de estreia, que até foi duplo, era mais uma compilação de singles que propriamente um álbum construido da cabeça aos pés. Sound Of Silver tem tudo, para todos os gostos. Da raiva controlada de "Us Vs. Them" à tocante e desencantada declaração de amor à sua mais que tudo Nova Iorque, passando pela acutilante "All My Friends" e pela envolvente "Someone Great", momentos inesquecíveis não faltam por aqui. Ouça-se "Watch The Tapes" e
perceba-se que nem quando os ritmos são mais primários e o viço punk vem à tona a qualidade baixa. Isto tudo sem esquecer os já característicos crescendos: "Get Innocuous!" abre o álbum de maneira arrepiante...

Aos arautos da desgraça que diziam que a DFA era uma editora da moda - e que ia morrer moribunda assim que esta "moda" passasse - lamento informar que esse dia ainda não chegou. Nem irá chegar, pelo menos por esses motivos. Porque aqui a música não se rege por modas, nem a DFA está confinada, como alguns gostam de fazer crer, ao disco-punk. A DFA está confinada sim, mas à boa música (apesar de algumas excepções que não me agradam mas que servem para confirmar a regra). E essa não é só disco-punk ou fandango, a boa música é universal e ultrapassa etiquetas.

Os LCD Soundsystem, apesar de não terem chegado novos às luzes da ribalta, são o presente e o futuro. Yeah!


[apesar de ter franzido o sobrolho inicialmente, acabo com um agradecimento ao Simão e ao João Francisco pela oportunidade que me deram de escrever sobre uma das minhas paixões neste magnífico cantinho da blogosfera. Brevemente voltaremos a ter novidades conjuntas!]

4 comentários:

Poppe1 disse...

São a banda da década,não são?!

tracejado disse...

quem fala assim não é gago!

Simão disse...

Uma das, Pope. A par dos Franz Ferdinand, Strokes, Arcade Fire, Radiohead e White Stripes. Mas isso sou só eu a dizer.

O Breites não é nada gago a falar dos LCD, tracejado, pois não?

Abraço

Breites disse...

Se tivesse de escolher uma e apensas uma, apesar de todas as outras, estava escolhida. Mas isto é mesmo assim, cada cabeça sua sentença.

Espero que tenham gostado do texto.