sábado, 23 de janeiro de 2010

VIP party




Esta é a (fabulosa) capa da mais recente aventura musical de Peter Gabriel, e o plano das festas não poderia ser mais simples e delicioso: uma simples troca por troca. Gabriel faz "covers" de vários artistas convidados, e em contrapartida, esses mesmos artistas farão "covers" de músicas escritas pelo compositor britânico. A coisa até poderia não ser nada de especial, não fossem os nomes em questão artistas como David Bowie, Elbow, Radiohead, Arcade Fire, Regina Spektor, Bon Iver, Talking Heads, Lou Reed e Neil Young (como se o nome de Peter Gabriel também não fosse, por si só, suficiente).

Um elenco de luxo como este até parece bom de mais para ser verdade, mas a primeira parte do projecto já está quase cá fora. Scratch My Back contém as 12 versões de Peter Gabriel, enquanto que I'll Scratch Yours sairá mais tarde, desta feita com as canções de Gabriel interpretadas pelos mesmos artistas.
Mais um aperitivo para o grande banquete que promete ser este ano de 2010.

1. Heroes - David Bowie
2. The Boy In The Bubble - Paul Simon
3. Mirrorball - Elbow
4. Flume - Bon Iver
5. Listening Wind - Talking Heads
6. The Power Of The Heart - Lou Reed
7. My Body Is A Cage - Arcade Fire
8. The Book Of Love - The Magnetic Fields
9. I Think It's Going To Rain Today - Randy Newman
10. Après Moi - Regina Spektor
11. Philadelphia - Neil Young
12. Street Spirit (Fade Out) - Radiohead

sábado, 16 de janeiro de 2010

saudosos anos 2000 - cogumelos e tudo mais




Poucas bandas se poderão orgulhar de poder afirmar que quebraram a barreira do díficil segundo álbum. Entre elas encontra-se, sem qualquer sombra de dúvida, o trio britânico de Teignmouth, Devon, Reino Unido. Depois de um primeiro álbum (Showbiz) em que as potencialidades foram devidamente reconhecidas mas em que a maldita comparação aos já na altura gigantes Radiohead (chaga que persiste incompreensivelmente até aos dias de hoje, diga-se de passagem) ameaçava ofuscar uma carreira brilhante, os Muse resolveram rebentar com os padrões da cena rock da altura. Independentemente dos caminhos que a banda viria a tomar no futuro, Origin Of Symmetry (2001) caiu que nem uma bomba no circuito do rock alternativo. Já poucos acreditavam no renascimento do rock, e provavelmente este álbum em nada contribuiu para o fazer, mas uma verdade é certa: os Muse criaram uma obra prima como poucas existem e como muitos já julgavam impossível de acontecer.
O primeiro contacto que tive com a música dos Muse foi com Absolution, que saiu em 2003. Aí apercebi-me de que estava na presença de uma banda que me atingia no âmago daquilo que eu pretendia da música. Com Origin Of Symmetry, tive a certeza de que me encontrava perante a minha banda preferida.
Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que coloquei este CD na minha aparelhagem para o ouvir. Poucos álbuns existem em que a sequência inicial de músicas nos deixa absolutamente agarrados à cadeira. São 7 faixas de cortar a respiração em que a voz esquizofrénica de Matthew Bellamy nos conduz numa viagem recheada de riffs rasgados, ambientes espaciais e futuristas, harpejos e interlúdios ao piano (que viriam a tornar-se imagem de marca do grupo), melodias gritantes, apaixonadas, intensas, agressivas, directas, exarcebadas, envolventes, contagiantes, entusiasmantes e, acima de tudo, inovadoras. Nelas encontramos falsetes operáticos, harmónicos dissonantes, baixos distorcidos e trabalhados, secções rítmicas inteligentes, camadas e camadas de pormenores por descobrir. New Born, Bliss, Space Dementia, Hyper Music, Plug In Baby, Citizen Erased e Microcuts, todas elas podem passar por hinos, homenagens perspicazes aos compositores clássicos, transpostas para uma era à altura da ambição do trio britânico. À oitava música (Screenager), uma pausa, ossos humanos e unhas de lama (sim, o bicho que existe nos Andes) marcam o ritmo compassado, num toque de jazz excêntrico do séc. XXI para imediatamente depois sermos conduzidos de volta a um tango epiléptico, onde o baixo de Chris Wolstenholme se destaca (Darkshines). Feeling Good é a homenagem brilhante a Nina Simone, numa das melhores covers de todos os tempos e o álbum acaba numa sonata "megalómana" em órgão de igreja em que Bellamy se despe e despeja incertezas sobre as certezas da vida, e onde o delírio lírico presente em todo o álbum culmina num êxtase alucinogénico.
Dizem os rumores que muitas das faixas de Origin Of Symmetry foram compostas e gravadas sob o efeito de cogumelos "mágicos", facto que poderá explicar alguns excertos das letras, assim como a excentricidade dos riffs, ritmos, efeitos, linhas de baixo e melodias da voz . Não obstante tudo isso (ou principalmente por causa disso), a pequena revolução liderada pelos Muse deixou o seu marco na história. Origin Of Symmetry poderá não estar incluído na maior parte das listas de melhores álbuns desta primeira década dos anos 2000. Mas posso afirmar com toda a certeza de que é o álbum da minha vida, pelo menos até ver. Ou até ouvir outra coisa que me desperte para ser outra pessoa diferente daquela que sou hoje. Chega para vos convencer?


1. New Born
2. Bliss
3. Space Dementia
4. Hyper Music
5. Plug In Baby
6. Citizen Erased
7. Microcuts
8. Screenager
9. Darkshines
10. Feeling Good
11. Megalomania

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

os (outros) 10 momentos mais marcantes de 2009, que na verdade são só 9 - João Gonçalves


Sou pouco adepto de tops, pelo menos no que diz respeito àqueles que implicam um ranking numérico. Para além de considerar extremamente redutor e arriscado reunir a melhor música que se fez num ano inteiro, numa lista hierarquizada de 10 ou 15 ou 20 lugares, estas brincadeiras, inevitavelmente, misturam estilos e perspectivas por vezes tão díspares que originam o mais chocado protesto ou estupefacção, interrogações e censuras ao critério escolhido, etc, etc. Resumindo: tenho pouca paciência para essas merdas.
Como se não fosse suficiente, este foi um ano que me deixou algo desiludido em termos de matéria musical. Não me interpretem mal, fez-se muita e boa música em 2009. Mas não houve a energia contagiante de alguns anos anteriores, em torno da maioria dos álbuns que saíram, embora alguns deles sejam manifestamente bons. Parece-me a mim, que faltou a chama de um nome ou dois verdadeiramente grandes (vem-me à cabeça Radiohead, Arcade Fire, LCD Soundsystem...), e que o rebuliço que houve com "Merriweather Post Pavillion" (saiu logo em Janeiro, lembram-se?) matou logo à nascença qual seria o mais consagrado do ano. Paradoxalmente, é isso que torna 2009 tão caracteristicamente interessante.

É, pois, por isso que eu vos apresento não uma lista daqueles que eu considero serem os melhores de 2009, mas sim uma lista que complementa aquela que o meu camarada Simão apresentou aqui há dias. Porque partilho com ele alguns dos nomes que ele considerou serem os mais marcantes deste ano, e porque fiquei monumentalmente chocado com alguns outros que ele deixou de fora, aqui ficam estes álbuns, para que fique registado que eles foram ouvidos e devidamente apreciados aqui por estes lados. Deixemo-nos de conversa:



Kasabian - West Ryder Pauper Lunatic Asylum

Os Kasabian fazem parte daquele grupo restrito de bandas que me fazem pensar, sempre que tenho oportunidade de escutar um álbum deles: "mas porque raio é que eu não oiço estes gajos mais vezes??" WRPLA, para além de ter um nome comprido e estranho, é uma das grandes marcas do ano. A batida e o ritmo estão lá, mas desta vez os Kasabian apostam na imprevisibilidade. Esquecem os refrões fáceis e arriscam mais. Mais ousados, mais interessantes, melhores que nunca. Que se façam mais álbuns assim.


Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix

Para além do título claramente bem humorado, a música do 4º álbum dos Phoenix é genuinamente boa. Como gosto de fazer comparações híbridas, diria que estes moços são uma mistura de The Shins com Vampire Weekend, juntando uma pitada de sintetizadores e uma contagiante dose de boa disposição. Uma das mais agradáveis surpresas do ano, para ouvir e ouvir várias vezes.


Muse - The Resistance

O meu momento tendencioso do dia. Num ano de clara tendência indie/minimalista, a excentricidade de The Resistance é uma lufada de ar fresco num ano que ameaçava tornar-se soturno demais. Ame-se ou odeie-se, ninguém lhe fica indiferente, e tem lá dentro algumas das melhores músicas feitas pelos Muse.


The xx - xx

Um nome que me espantou ter sido descartado pelo Simão, a mim não passa indiferente. A par de Merriweather Post Pavillion, dos Animal Colective, o disco de estreia dos The xx é o álbum mais badalado do ano. Numa coisa concordamos: xx não é certamente uma obra grandiosa. Mas aí reside o segredo do seu sucesso. Músicas simples, mas construídas com várias camadas, vários pormenores. Vozes suaves, sussurradas e despretenciosas, conduzem melodias reconfortantes, descontraídas e surpreendentemente "catchy". Um óptimo disco para nos deixar-mos levar, e que se revela a si mesmo à medida que as audições se multiplicam. Vale mesmo a pena.


The Big Pink - A Brief History Of Love

Se tivesse que ser obrigado a fazer um top 10, este disco de estreia teria presença mais que assegurada. Guitarras estridentes, intensas e distorcidas, paisagens e ritmos electrónicos, melodias cativantes e um dos melhores singles do ano (Dominos). O que há para não gostar? Uma das descobertas mais interessantes de 2009.


Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz

E eis que os Yeah Yeah Yeahs trocaram as guitarras pelos sintetizadores. "Blasfémia", gritarão alguns, "é moda" gritarão outros. A verdade é que a energia presente no álbum é revitalizante. Karen O, uma das vozes femininas mais cativantes da actualidade, lidera o assalto às pistas de dança, e a chamada à electrónica é aposta ganha em It's Blitz. Não faltam momentos mais saudosos e melancólicos, mas este disco é essencialmente um disco de celebração. Lá dentro, Zero e Heads Will Roll são duas das faixas que marcam 2009. Well done!


Patrick Wolf - The Bachelor

Ao que parece anda (injustamente) arredado das listas dos melhores deste ano. Mas Wolf não ficou esquecido por estes lados. O britânico decidiu deixar o circo para trás e pôs mãos à obra para criar um álbum intenso, directo, agressivo, recheado de orquestrações e coros. Pop e electrónica de mãos dadas, como só ele sabe fazer. O David Bowie do século XXI, não me canso de o repetir.


Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures

O super-grupo formado por Josh Homme, Dave Grohl e Jonh Paul Jones foi das últimas coisas a que me propus ouvir este ano, e as pequenas amostras que circulavam na internet eram pouco apetecíveis para eu criar grandes expectativas. Obviamente, enganei-me redondamente. Rock puro e duro, com um toque de criatividade rítmica e riffs calculados. Está lá a típica guitarra abafada de Queens Of The Stone Age, os breaks certeiros da bateria de Grohl, o groove experiente e sereno dos Led Zepellin. É rock como já pouco se faz hoje em dia, e eu só gostava de me enganar mais vezes assim.


Arctic Monkeys - Humbug

Um dos frutos da discórdia aqui no When You're Around. Para o Simão é um álbum banal, para mim uma viragem surpreendente. Humbug é diferente e mudou a sonoridade dos Arctic Monkeys. Para melhor? Para mim não há dúvidas que estamos perante um grande álbum, mais escuro, mais implícito, mais difícil de ouvir. Mas eu gosto de obras que me dêem "luta". Vénias a Josh Homme. E vénias aos 4 putos, que não tiveram medo de crescer.

geeks do it better


"Horchata" recebe-nos como se acabássemos de chegar à selva. "Contra", o novo disco dos Vampire Weekend, transporta-nos para pleno Verão quando ainda agora começou 2010. Mas não há dúvida que é uma excelente forma de começar o ano.

O quarteto nova-iorquino não esqueceu o arzinho nerd nem a fórmula segundo a qual elaboram as canções. Mas introduzem novas palmeiras na sua sonoridade. Desta vez, além dos já habituais e deliciosos arranjos orquestrais, há também guitarras ligeiramente distorcidas. Sintetizadores em arpejo, lá nos graves, sim, também os há - começa a ser um recurso inevitável, mas se ajudar a soar melhor, qual o problema?

É incrível como, depois de terem arrecadado o top de melhor álbum de 2008 (aqui para estes lados), os geeks mais divertidos daquela zona de Nova Iorque conseguem produzir mais um álbum recheado de boas canções, dançáveis e cantáveis até mais não. Por vezes, achamos que estão a um passo do caos, no que aos ritmos e às oscilações vocais de Ezra Koenig diz respeito. Só que a seguir vêm os violinos, violas e violoncelos e captam-nos os pontos fracos.

Além de ser um disco mais bem produzido que o homónimo, "Contra" é também um novo patamar na vida dos Vampire Weekend, capazes de caminhar em pavimentos mais escorregadios - talvez o projecto Discovery ("LP", 2009), de Rostam Batmanglij (o teclista) tenha ajudado a criar soluções anti-derrapantes.

Don't worry. Geeks do it better.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

saudosos anos 2000 - mixtape



Não é fácil compilar (quase) dez anos de música. Falo por experiência própria. Mas o resultado da mixtape que fiz com o Breites agradou-me. Quis fazê-la a dois por essa mesma razão. Outros olhos, outras mãos e outros gostos ajudaram a eleger várias músicas que, na nossa humilde opinião, serão representativas, na medida do possível, do que se fez no mundo da música desde 2000.




Setlist:

Intro (David Carradine and Uma Thurman - "Truly And Utterly Bill"_Kill Bill II OST)
Arctic Monkeys - Old Yellow Bricks
Digitalism - I Want I Want
Bloc Party - Positive Tension
Fischerspooner - Emerge
Justice - DVNO
LCD Soundsystem - Disco Infiltrator
Hot Chip - Over and Over
Depeche Mode - John The Revelator
New Order - Krafty
The Kills - Last Day Of Magic
Franz Ferdinand - You're the Reason I'm Leaving
The Rakes - Open Book
Patrick Wolf - Tristan
Animal Collective - Peacebone
Radiohead - 15 Step
Gorillaz - Re-Hash
Cut Copy - Going Nowhere
Arcade Fire - Haiti
Interlúdio: Pulp Fiction OST - "Zed's Dead Baby"
The Strokes - On The Other Side