Poucas bandas se poderão orgulhar de poder afirmar que quebraram a barreira do díficil segundo álbum. Entre elas encontra-se, sem qualquer sombra de dúvida, o trio britânico de Teignmouth, Devon, Reino Unido. Depois de um primeiro álbum (Showbiz) em que as potencialidades foram devidamente reconhecidas mas em que a maldita comparação aos já na altura gigantes Radiohead (chaga que persiste incompreensivelmente até aos dias de hoje, diga-se de passagem) ameaçava ofuscar uma carreira brilhante, os Muse resolveram rebentar com os padrões da cena rock da altura. Independentemente dos caminhos que a banda viria a tomar no futuro, Origin Of Symmetry (2001) caiu que nem uma bomba no circuito do rock alternativo. Já poucos acreditavam no renascimento do rock, e provavelmente este álbum em nada contribuiu para o fazer, mas uma verdade é certa: os Muse criaram uma obra prima como poucas existem e como muitos já julgavam impossível de acontecer.
O primeiro contacto que tive com a música dos Muse foi com Absolution, que saiu em 2003. Aí apercebi-me de que estava na presença de uma banda que me atingia no âmago daquilo que eu pretendia da música. Com Origin Of Symmetry, tive a certeza de que me encontrava perante a minha banda preferida.
Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que coloquei este CD na minha aparelhagem para o ouvir. Poucos álbuns existem em que a sequência inicial de músicas nos deixa absolutamente agarrados à cadeira. São 7 faixas de cortar a respiração em que a voz esquizofrénica de Matthew Bellamy nos conduz numa viagem recheada de riffs rasgados, ambientes espaciais e futuristas, harpejos e interlúdios ao piano (que viriam a tornar-se imagem de marca do grupo), melodias gritantes, apaixonadas, intensas, agressivas, directas, exarcebadas, envolventes, contagiantes, entusiasmantes e, acima de tudo, inovadoras. Nelas encontramos falsetes operáticos, harmónicos dissonantes, baixos distorcidos e trabalhados, secções rítmicas inteligentes, camadas e camadas de pormenores por descobrir. New Born, Bliss, Space Dementia, Hyper Music, Plug In Baby, Citizen Erased e Microcuts, todas elas podem passar por hinos, homenagens perspicazes aos compositores clássicos, transpostas para uma era à altura da ambição do trio britânico. À oitava música (Screenager), uma pausa, ossos humanos e unhas de lama (sim, o bicho que existe nos Andes) marcam o ritmo compassado, num toque de jazz excêntrico do séc. XXI para imediatamente depois sermos conduzidos de volta a um tango epiléptico, onde o baixo de Chris Wolstenholme se destaca (Darkshines). Feeling Good é a homenagem brilhante a Nina Simone, numa das melhores covers de todos os tempos e o álbum acaba numa sonata "megalómana" em órgão de igreja em que Bellamy se despe e despeja incertezas sobre as certezas da vida, e onde o delírio lírico presente em todo o álbum culmina num êxtase alucinogénico.
Dizem os rumores que muitas das faixas de Origin Of Symmetry foram compostas e gravadas sob o efeito de cogumelos "mágicos", facto que poderá explicar alguns excertos das letras, assim como a excentricidade dos riffs, ritmos, efeitos, linhas de baixo e melodias da voz . Não obstante tudo isso (ou principalmente por causa disso), a pequena revolução liderada pelos Muse deixou o seu marco na história. Origin Of Symmetry poderá não estar incluído na maior parte das listas de melhores álbuns desta primeira década dos anos 2000. Mas posso afirmar com toda a certeza de que é o álbum da minha vida, pelo menos até ver. Ou até ouvir outra coisa que me desperte para ser outra pessoa diferente daquela que sou hoje. Chega para vos convencer?
1. New Born
2. Bliss
3. Space Dementia
4. Hyper Music
5. Plug In Baby
6. Citizen Erased
7. Microcuts
8. Screenager
9. Darkshines
10. Feeling Good
11. Megalomania
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