quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

os (outros) 10 momentos mais marcantes de 2009, que na verdade são só 9 - João Gonçalves


Sou pouco adepto de tops, pelo menos no que diz respeito àqueles que implicam um ranking numérico. Para além de considerar extremamente redutor e arriscado reunir a melhor música que se fez num ano inteiro, numa lista hierarquizada de 10 ou 15 ou 20 lugares, estas brincadeiras, inevitavelmente, misturam estilos e perspectivas por vezes tão díspares que originam o mais chocado protesto ou estupefacção, interrogações e censuras ao critério escolhido, etc, etc. Resumindo: tenho pouca paciência para essas merdas.
Como se não fosse suficiente, este foi um ano que me deixou algo desiludido em termos de matéria musical. Não me interpretem mal, fez-se muita e boa música em 2009. Mas não houve a energia contagiante de alguns anos anteriores, em torno da maioria dos álbuns que saíram, embora alguns deles sejam manifestamente bons. Parece-me a mim, que faltou a chama de um nome ou dois verdadeiramente grandes (vem-me à cabeça Radiohead, Arcade Fire, LCD Soundsystem...), e que o rebuliço que houve com "Merriweather Post Pavillion" (saiu logo em Janeiro, lembram-se?) matou logo à nascença qual seria o mais consagrado do ano. Paradoxalmente, é isso que torna 2009 tão caracteristicamente interessante.

É, pois, por isso que eu vos apresento não uma lista daqueles que eu considero serem os melhores de 2009, mas sim uma lista que complementa aquela que o meu camarada Simão apresentou aqui há dias. Porque partilho com ele alguns dos nomes que ele considerou serem os mais marcantes deste ano, e porque fiquei monumentalmente chocado com alguns outros que ele deixou de fora, aqui ficam estes álbuns, para que fique registado que eles foram ouvidos e devidamente apreciados aqui por estes lados. Deixemo-nos de conversa:



Kasabian - West Ryder Pauper Lunatic Asylum

Os Kasabian fazem parte daquele grupo restrito de bandas que me fazem pensar, sempre que tenho oportunidade de escutar um álbum deles: "mas porque raio é que eu não oiço estes gajos mais vezes??" WRPLA, para além de ter um nome comprido e estranho, é uma das grandes marcas do ano. A batida e o ritmo estão lá, mas desta vez os Kasabian apostam na imprevisibilidade. Esquecem os refrões fáceis e arriscam mais. Mais ousados, mais interessantes, melhores que nunca. Que se façam mais álbuns assim.


Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix

Para além do título claramente bem humorado, a música do 4º álbum dos Phoenix é genuinamente boa. Como gosto de fazer comparações híbridas, diria que estes moços são uma mistura de The Shins com Vampire Weekend, juntando uma pitada de sintetizadores e uma contagiante dose de boa disposição. Uma das mais agradáveis surpresas do ano, para ouvir e ouvir várias vezes.


Muse - The Resistance

O meu momento tendencioso do dia. Num ano de clara tendência indie/minimalista, a excentricidade de The Resistance é uma lufada de ar fresco num ano que ameaçava tornar-se soturno demais. Ame-se ou odeie-se, ninguém lhe fica indiferente, e tem lá dentro algumas das melhores músicas feitas pelos Muse.


The xx - xx

Um nome que me espantou ter sido descartado pelo Simão, a mim não passa indiferente. A par de Merriweather Post Pavillion, dos Animal Colective, o disco de estreia dos The xx é o álbum mais badalado do ano. Numa coisa concordamos: xx não é certamente uma obra grandiosa. Mas aí reside o segredo do seu sucesso. Músicas simples, mas construídas com várias camadas, vários pormenores. Vozes suaves, sussurradas e despretenciosas, conduzem melodias reconfortantes, descontraídas e surpreendentemente "catchy". Um óptimo disco para nos deixar-mos levar, e que se revela a si mesmo à medida que as audições se multiplicam. Vale mesmo a pena.


The Big Pink - A Brief History Of Love

Se tivesse que ser obrigado a fazer um top 10, este disco de estreia teria presença mais que assegurada. Guitarras estridentes, intensas e distorcidas, paisagens e ritmos electrónicos, melodias cativantes e um dos melhores singles do ano (Dominos). O que há para não gostar? Uma das descobertas mais interessantes de 2009.


Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz

E eis que os Yeah Yeah Yeahs trocaram as guitarras pelos sintetizadores. "Blasfémia", gritarão alguns, "é moda" gritarão outros. A verdade é que a energia presente no álbum é revitalizante. Karen O, uma das vozes femininas mais cativantes da actualidade, lidera o assalto às pistas de dança, e a chamada à electrónica é aposta ganha em It's Blitz. Não faltam momentos mais saudosos e melancólicos, mas este disco é essencialmente um disco de celebração. Lá dentro, Zero e Heads Will Roll são duas das faixas que marcam 2009. Well done!


Patrick Wolf - The Bachelor

Ao que parece anda (injustamente) arredado das listas dos melhores deste ano. Mas Wolf não ficou esquecido por estes lados. O britânico decidiu deixar o circo para trás e pôs mãos à obra para criar um álbum intenso, directo, agressivo, recheado de orquestrações e coros. Pop e electrónica de mãos dadas, como só ele sabe fazer. O David Bowie do século XXI, não me canso de o repetir.


Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures

O super-grupo formado por Josh Homme, Dave Grohl e Jonh Paul Jones foi das últimas coisas a que me propus ouvir este ano, e as pequenas amostras que circulavam na internet eram pouco apetecíveis para eu criar grandes expectativas. Obviamente, enganei-me redondamente. Rock puro e duro, com um toque de criatividade rítmica e riffs calculados. Está lá a típica guitarra abafada de Queens Of The Stone Age, os breaks certeiros da bateria de Grohl, o groove experiente e sereno dos Led Zepellin. É rock como já pouco se faz hoje em dia, e eu só gostava de me enganar mais vezes assim.


Arctic Monkeys - Humbug

Um dos frutos da discórdia aqui no When You're Around. Para o Simão é um álbum banal, para mim uma viragem surpreendente. Humbug é diferente e mudou a sonoridade dos Arctic Monkeys. Para melhor? Para mim não há dúvidas que estamos perante um grande álbum, mais escuro, mais implícito, mais difícil de ouvir. Mas eu gosto de obras que me dêem "luta". Vénias a Josh Homme. E vénias aos 4 putos, que não tiveram medo de crescer.

1 comentário:

Simão disse...

É por estas e por outras que gosto de ter um blogue a dois. Talvez a três nem fosse descabido. Porque no final o que ficam são diferentes opções, diferentes visões da música de que ambos gostamos.

Por isso e pelas tuas escolhas, excelente lista, se desconfiavas que eu ia desdenhar.