segunda-feira, 23 de novembro de 2009

este ano já posso morrer feliz, no próximo logo se verá


Sábado, dia 21 de Novembro, dirigi-me ao Loft, discoteca de Santos, para o evento d' O Baile. Fui lá, mais a minha Raquel, para ouvir os tão-ainda-pouco-elogiados-por-aqui Micachu and The Shapes.

Só faltou um som um pouquinho mais definido. À esquerda encontrava-se Raisa Khan, de lado para o público, com o seu sintetizador M-Audio, um prato (crash) virado ao contrário, um timbalão de chão e um jogo de percussões metálicas onde se vislumbravam uma garrafa de vinho do porto e outra de Licor Beirão.
Na ponta oposta, Marc Pell garantia o ritmo da coisa. Não faz linhas de bateria evidentes. Cumpre e não deixa a desejar. É isto que se quer.
Ao centro, Mica Levi, mais conhecida por Micachu. Tem no seu franzir-de-lábio um dos aspectos marcantes da sua forma feia-gira de cantar (e até falar).

Juntos, são os Micachu and The Shapes. E são um espectáculo.

O alinhamento foi o menos previsível possível. Do álbum, lembro-me de "Wrong", "Lips", "Golden Phone" e "Hardcore", entre outras. Faltaram "Worst Bastard" e "Calcullator". Tocaram pelo menos quatro músicas que não encontramos no álbum "Jewellery". Num concerto que durou pouco mais de 40 minutos, isto mostra bem que a banda não tem que lamber as botas a ninguém. É mais ao contrário.

Adoro ver alguém que sabe desafinar. É o caso de Mica. A sua formação clássica proporciona-lhe esse acrescento musical: na primeira música do alinhamento, em que os acordes voavam entre o Mi maior e menor, Mica fazia sempre a terceira que se pedia no outro acorde: para o maior, aplicava-lhe uma terceira menor e vice-versa. É assim, também, toda a música dos Micachu and The Shapes. As resoluções de acordes nem sempre param onde esperamos, mas isso constitui uma fatia importante da riqueza musical deste trio britânico. Eu achava que o trabalho que Herbert desenvolveu com eles ao nível do estúdio seria impossível de estampar ao vivo. Pois bem, adorei enganar-me, Sábado à noite. Salvo algumas excepções em que o sintetizador de Raisa se encontrava demasiado pujante, o certo é que as pequenas minudências da música dos Micachu and The Shapes são o seu segredo mais mal guardado. Estão lá para defender a sonoridade mais cativante deste ano.

Acabado o concerto, conheci a Mica Levi. Simpática dos pés à cabeça, a exibir o seu franzir-de-lábio como quem não sabe fazer outra coisa. Depois de em Paredes de Coura ter conhecido Nick McCarthy, guitarrista dos meus mais-que-tudo Franz Ferdinand, este ano já posso morrer feliz. A vida é feita destas pequenas-grandes coisas. Para o ano, logo se vê.

2 comentários:

Poppe1 disse...

Nada como ter um músico a fazer uma critica a um espectáculo.
Gostei de ler.

Simão disse...

Obrigado Poppe.

Uma vez um jornalista disse-me que uma coisa era crítica musical e outra jornalismo musical. São de facto coisas muito diferentes.

Um abraço