quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vive La Resistance




O muito aguardado The Resistance, 5º album de estúdio dos Muse, já foi alvo de intensa audição e revisão aqui por estes lados.

Seguindo a linha já timidamente explorada no registo anterior (Black Holes and Revelations), os Muse não tiveram medo de alargar horizontes, não se prendendo às fórmulas de sucesso que os elevaram a um patamar de adoração no circuito do rock alternativo no passado. Pela primeira vez sem uma voz externa a comandar o barco, os Muse tomaram as rédeas da produção deste álbum, e o resultado é um disco que não tem medo de assumir a sua loucura e aparente falta de vergonha.

Intensamente orquestrado e clássico, é ao mesmo tempo notória a forte influência electrónica, e os "riffs" pesados e electrizantes também cá estão. A voz de Bellamy soa melhor que nunca, o baixo de Wolstenwholme é (ainda mais) criativo e imponente, e Dominic Howard continua a ser o motor incansável e invisível que está na base da versatilidade dos Muse.
Uprising é um híbrido entre Goldfrapp e Marylin Manson; Undisclosed Desires encontra os Muse a explorar a pop e o R&B, e o resultado é um ambiente "depeche modeano", com um dos refrões mais marcantes do disco; United States Of Eurasia é um tributo kitsch aos Queen, com versos que fazem lembrar a Butterflies & Hurricanes; Unnatural Selection e MK Ultra são um delírio de rock temperado com sintetizadores, das músicas mais pesadas a serem editadas pelos Muse, bem ao estilo dos tempos de Origin of Symmetry; I Belong to You, por outro lado, é uma das surpresas mais deliciosas deste álbum, e remete mais para o estilo de Showbiz, mas na altura os homens nunca se lembrariam de incluir um solo de clarinete numa das suas músicas; para o final fica a muito esperada sinfonia, onde Bellamy dá largas ao seu virtuosismo ao piano, e um ambiente etéreo é a banda sonora "John Williams-like" para um futuro hipotético, em que a Humanidade tem de sair da Terra e procurar um novo planeta para sobreviver.

Seria difícil pensar que o trio britânico poderia ir ainda mais longe e alargar os seus limites musicais, especialmente após os concertos de consagração que esgotaram 2 estádios de Wembley no verão de 2007. Mas quem está habituado às extravagâncias de Matthew Bellamy e companhia, às letras que falam de conspirações, alucinações, apocalipse, à música que poderia ser a banda sonora de uma trip de cogumelos mágicos ou de um épico filme de batalhas espaciais, certamente não esperava nada menos do que um novo conjunto de canções ridiculamente pretensiosas, arrebatadoras, épicas, despidas de qualquer tipo de bom senso e exploradoras de novos trilhos sonoros. The Resistance, nesse aspecto, não desilude nem um bocadinho.

É uma viagem mirabolante por um universo recheado de cores e emoções, sons e estilos diferentes. É um álbum, extravagante, excêntrico, arrojado, recheado de "guilty pleasures" e de músicas que têm tudo para se tornar grandes clássicos da carreira do trio britânico. A capa de The Resistance resume tudo: estamos perante um caleidoscópio musical arrebatador que nenhuma outra banda do panorama musical actual teria o descaramento de fazer. Felizmente estes rapazes não têm vergonha nenhuma na cara.


1. Uprising
2. Resistance
3. Undisclosed Desires
4. United States Of Eurasia (+ Collateral Damage)
5. Guiding Light
6. Unnatural Selection
7. MK Ultra
8. I Belong To You (+ Mon Coeur S'ouvre A Ta Voix)
9. Exogenesis Pt. I - Overture
10. Exogenesis Pt. II - Cross-Pollination
11. Exogenesis Pt. III - Redemption